domingo, 17 de janeiro de 2016

Agricultura orgânica e sustentável

Alguns posts recentes no face e as últimas andanças pelo sertão suscitam algumas reflexões sobre o tema e de quebra, assunto para retomar esta página.

Em especial sobre algumas noções cristalizadas, até contraditórias, que circulam sem que se levante nenhum questionamento sobre os princípios que orientam este modelo de produção.

A agricultura surgiu há 10.000 anos atrás, (talqualmente Raul Seixas), e de lá pra cá permitiu que o ser humano largasse a vida nômade e construísse o que chamamos de civilização, com a alimentação garantida pelo trabalho do agricultor.

Foi a base da riqueza de muitos povos e nações, possibilitando e financiando o surgimento dos setores industrial e de serviços.

Mas também a causa da derrocada de civilizações que não souberam manejar os recursos naturais disponíveis, exaurindo-os por ganância.

Essencial, até hoje, para garantir a alimentação da população e matéria prima para diversos setores industriais, a agricultura é vista como um setor atrasado da economia, tolerada apenas pra não faltar o pão nosso de cada dia. E o agricultor é solenemente ignorado pela sociedade, que acredita piamente que a comida brota nas prateleiras dos supermercados.

Ao longo desta história, os agricultores construíram vasto conhecimento sobre os cultivos e criações, interpretando e interagindo com a Natureza, fonte de vida do Planeta.

E sempre foram criteriosamente vigiados pelos donos do poder, cientes de que o pão e o circo eram essenciais para a manutenção da ordem na vassalagem.

Aí pelos meados dos 1800, o desenvolvimento da Ciência permitiu um grande conhecimento do mecanismo da alimentação das plantas e dos animais domésticos, com o entendimento da importância e função dos nutrientes, prometendo uma nova era para atividade.

Mas, desmentindo a pretensa neutralidade do conhecimento (ou da utilização que dele se faz), ao invés de desenvolver a agricultura, abriu-se uma era de ouro para a indústria de fertilizantes. E a chamada Revolução Agrícola foi na verdade sua subordinação à lógica industrial.

Mesmo reconhecendo os avanços importantes dos estudos da química agrícola, muitos cientistas criticaram a visão reducionista do modelo apresentado, por minimizar (ignorar?) o caráter essencialmente biológico da agricultura. E já em 1924, Rudolf Steiner apresentava suas oito palestras para os agricultores, com os fundamentos da agricultura biodinâmica. E em vários lugares de diversos continentes outros pesquisadores desenvolviam suas propostas.

Os temores tinham fundamento. Ao lado de um vistoso e incontestável aumento da produtividade agrícola (sempre louvado e lembrado pela mídia), ficou um rastro de degradação ambiental, erosão genética, poluição, contaminação por agrotóxicos e exclusão social. O aumento de produtividade deprimiu os preços dos produtos agrícolas, deixando os agricultores em situação de desvantagem nas suas relações de troca com a indústria de insumos e equipamentos agrícolas. E, embora o estoque de alimentos hoje disponível seja suficiente para alimentar uma vez e meia os habitantes da Terra, convivemos com milhões de famintos, ironicamente, grande parte entre a população rural.

O despertar da consciência ambiental na sociedade e o temor de consumir alimentos com resíduos tóxicos criam um crescente mercado para alimentos produzidos por sistemas alternativos à agricultura industrial.

Assuntos para os próximos posts que isto tá ficando comprido demais.