terça-feira, 1 de agosto de 2017

MUDA BRASIL! Tancredo já.

Abaeté, Minas Gerais, 1984.
A inauguração de um trecho de rodovia (entre Pompéu e Abaeté, acho) foi a deixa para um animado e recheado palanque de apoiadores de Tancredo Neves, já prestes a deixar o governo de Minas para enfrentar o Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.
Mesmo não obtendo os votos necessários para sua aprovação, a Emenda das Diretas mobilizara de tal forma a sociedade, que deixou claro estarem com os dias contados os velhos métodos eleitorais da ditadura.
Tancredo soube articular os apoios que o levariam a derrotar o candidato oficial no Colégio Eleitoral. Como disse Churchill, foi ao inferno e se aliou a satanás. Infelizmente, se foi precocemente, enquanto o tinhoso tá aí até hoje.
Voltando a Abaeté, foi uma manhã de festa. A presença de um governador numa cidade do interior é evento raro, já capaz por si só de movimentar os moradores. Some-se a isto o desejo de mudança que animava a sociedade, captado com maestria pelo futuro candidato.
Faixas espalhadas davam o mote: MUDA BRASIL! Tancredo já. Depois da eleição para governador, em 1982, os eleitores estavam impacientes para participar de alguma forma da escolha do presidente. Este processo todo rendeu um documentário do Oswaldo Caldeira, justamente chamado Muda Brasil, em 1985.
Eis que, senão quando a gente vê no noticiário que figuras nefastas e abjetas da política brasileira pedem registro de um partido com este nome, na tentativa de iludir o eleitorado, escondendo velhas práticas com artifícios velhacos. Típico caso de apropriação indébita, de resto bastante praticada por um sem número de políticos sem compromisso com os eleitores ou com princípios éticos.
Fica o registro.



sexta-feira, 28 de julho de 2017

"ou nós se une, ou nós se lasca"

Remexendo o baú, me deparo com esta foto de 1980.
Miltão (Francisco Milton Campos Horta, que nos deixou precocemente), Cristiano Quintino e o locutor que vos fala, na abertura da exposição fotográfica que marcou a apresentação ao público da Associação dos Fotógrafos Profissionais de Publicidade de Minas, AFPP-MG.
Um tempo de muita efervescência.
Na esteira da organização de diversas categorias de profissionais em busca de reconhecimento e direitos. os fotógrafos de publicidade sentiram ser o momento de constituir uma entidade que trabalhasse para valorizar e promover a categoria, estabelecendo princípios éticos e profissionais no mercado. A primeira surgiu em São Paulo, mas logo o movimento chegou ao Rio e a Belo Horizonte.
Dá pra imaginar o trabalho que que deu para superar desconfianças, temores e a absurda noção que teu companheiro de profissão é o inimigo a ser combatido. (Noção espalhada com sucesso por patrões e contratantes até hoje - ou desde sempre). Muita conversa, discussões acaloradas até que ficasse claro para toda a classe que, ou a gente se unia em torno de uma pauta mínima comum a ser defendida por uma entidade que nos representasse, ou era melhor a gente mudar de ramo.
Chegou-se a um consenso, englobando preço, normas de utilização das fotografias, direitos autorais e o compromisso de todos de defender o acordado diante das pressões das agências, que fatalmente ocorreriam.
Curioso notar que, no Brasil, quanto mais letrado, menos consciente de seus direitos. E maior a propensão a defender os exploradores.
A exposição foi um sucesso, mostrando ao pessoal das agências, aos clientes e ao público em geral o excelente patamar artístico, técnico e profissional dos fotógrafos locais, plenamente capacitados a atender suas demandas, sem a necessidade de contratar fotógrafos do Rio e São Paulo para campanhas mais elaboradas, prática ainda adotada por algumas agências mais metidas a besta.
Saudade deste tempo, das questões levantadas, da conscientização daí decorrente, com uma sensível melhoria no relacionamento profissional com as agências e clientes.
No início dos 1990 encerrei minhas atividades como fotógrafo, iniciando uma vida como agricultor familiar, categoria ignorada pelos governos e pela sociedade, durante séculos, que teve de cavar seu reconhecimento com a conscientização e organização em entidades combativas.
Apesar de algumas conquistas, obtidas com muita mobilização e pressão, está longe de ter o reconhecimento que merece por garantir a comida na mesa do brasileiro.
Ficando cada vez mais claro o dito daquele agricultor do distrito de Vazantes, em Aracoiaba: "ou nós se une, ou nós se lasca".


domingo, 30 de abril de 2017

O jornalismo de greve geral

Paula Cesarino Costa, ombudswoman do jornal Folha de São Paulo, resumiu a cobertura dos eventos do último dia 28 de abril, pela grande imprensa nacional, em frase curta e elegante: "Na sexta-feira, o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para trabalhar. " 
Bondade dela. O jornalismo, sem adjetivos, entendido como a atividade de apurar fatos e informações, redigir e publicar notícias nos meios de comunicação, tirou férias há muito tempo nos grandes veículos de comunicação de nosso País, que assumiram feição de partido político, sem pudor ou disfarce.
Apesar de ter fomentado o golpe militar de 1964 e apoiado abertamente a ditadura, enaltecendo-lhe os feitos, sendo cúmplice dos desmandos, a grande imprensa permitiu e publicou apurações feitas pelos seus jornalistas de fatos desagradáveis ao regime, como tortura, fome, escândalos financeiros, mordomias, driblando ou afrontando a censura e arbitrariedades. 
O que se viu na sexta-feira foi uma vergonha. Âncoras e comentaristas empenhados em adequar o acontecimento à visão do governo e da plutocracia que o apoia, ignorando a adesão de muitos setores da sociedade ao tema do protesto, demonstrando que a rejeição da sociedade a proposta se sobrepõe aos partidos políticos, sindicatos ou ideologias. 
Acreditam, piamente, que repetirão o sucesso obtido com a derrota da emenda das Diretas, em 1984, aprovando esta pauta plutocrata, num Congresso mais afeito a negociatas que a negociações.
Mesmo que finjam ignorar o que está acontecendo, a vida seguirá pulsando fora das folhas e das telinhas.
Termino com as palavras de um orador da manifestação de juízes, procuradores e demais membros desta categoria no Rio Grande do Sul, que vocês podem conferir neste link
"- (...)
- esse não é um ato de partido político
- esse não é um ato de uma central sindical
- esse não é um ato de uma ideologia
- o que move o fato de nós estarmos aqui hoje, é algo que é difícil de entender para aqueles que não tem valores, princípios e virtude
- quem não tem, não entende e desvirtua nossas razões
- essa organização aqui é uma organização de homens e mulheres responsáveis
- são entidades existencialmente que entendem o seu lugar na história e entendem sua responsabilidade na república
- aqui não se trata de chamar esse grupo de coxinha ou de mortadela, ficar chamando e estabelecendo essas flutuações imbecis, essas concepções monológicas, essas concepções binárias de quem vive o mundo apenas a partir dessas concepções."

(a ilustração não poderia ser outra, concordam?)



quinta-feira, 20 de abril de 2017

Canapum

Canapum.
Frutinha nativa que se espalha com vontade neste tempo de chuva. Parente do tomate, do pimentão, da batata dita inglesa, da família das solanáceas, que tem ainda o fumo, o jiló, a berinjela, a jurubeba.
Na conversa com um agricultor de meia idade, a lembrança do tempo em que se comia estas frutinhas e outros vegetais comestíveis enquanto se limpava o roçado. Saberes e sabores que se perdem, substituídos por uma receita de veneno prescrita por um técnico, vendedor de uma multinacional fabricante de insumos. 
 Os colombianos, que não são bestas, trataram de aproveitar o potencial comercial da planta, inserindo-a no circuito de alimentos funcionais e saudáveis, com seu nome científico, Physalis (assim mesmo, com ph de pharmácia e o y de vários significados).
E os iluminados aqui da terrinha achando que o grande negócio é vender por qualquer preço, pra quem se dispuser a aproveitar a liquidação, as nossas riquezas, muitas das quais nem conhecemos.
Economistas vão pra televisão, jurando de pés juntos que este é o único caminho a ser trilhado.

Soda, diria Phócrates.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

FIM DE MUNDO


Em tempos de Fim de Mundo, estabelece-se a balbúrdia e os "ohs", "ahs", "uhs" dos que desconhecem como se fazem as leis e as salsichas proliferam nas redes sociais, apontando o dedo para os desafetos, enquanto ignoram os que lhes são caros.
Mas, como falava Giovanni Improtta, é preciso ter muita calma nesta hora e ver as diversas gradações que vão sendo estabelecidas pelos arautos da justiça, antes de chamar alguém de ladrão.
Primeiro, se recebeu a propina e abriu uma conta na Suíça, embora seja crime, é um dinheiro que não está fazendo mal a ninguém e sim um tremendo bem para o titular e sua família, garantindo-lhe o futuro e dando argumentos sólidos para aprovar o assalto do Temer, o blindado, ao direito de aposentadoria dos trabalhadores.
Advogados atilados já podem pensar em estabelecer uma jurisprudência nesta matéria, tornando lícita a apropriação indébita para enriquecimento pessoal.
Na mesma linha, pode-se argumentar ser injusto tratar da mesma forma quem utilizou a propina para financiar campanhas eleitorais, pois existem os que ganharam a eleição e os que a perderam. Mas, neste caso podemos ficar tranquilos, pois os doutos magistrados terão a cognição necessária para separar o joio do trigo e condenarão, com rigor, todos aqueles que possam ameaçar o rompimento da ordem estabelecida por direito divino. (Este direito já foi questionado por Jesus Cristo, quando falou que todos os homens são igualmente filhos de Deus, mas você sabe o que fizeram com Ele. Soltaram Barrabás.).
Além do mais, por uma questão de justiça, é necessário que se cobre com rigor dos juízes eleitorais e dos respectivos TREs e TSE que têm aprovado, ao longo de décadas, as contas de campanha, validando esta pouca vergonha.
Portanto, este bate boca vai longe e se a gente abdicar de fazer perguntas simples, vamos acabar entregando nosso destino nas mãos de refinados espertalhões.