sexta-feira, 28 de julho de 2017

"ou nós se une, ou nós se lasca"

Remexendo o baú, me deparo com esta foto de 1980.
Miltão (Francisco Milton Campos Horta, que nos deixou precocemente), Cristiano Quintino e o locutor que vos fala, na abertura da exposição fotográfica que marcou a apresentação ao público da Associação dos Fotógrafos Profissionais de Publicidade de Minas, AFPP-MG.
Um tempo de muita efervescência.
Na esteira da organização de diversas categorias de profissionais em busca de reconhecimento e direitos. os fotógrafos de publicidade sentiram ser o momento de constituir uma entidade que trabalhasse para valorizar e promover a categoria, estabelecendo princípios éticos e profissionais no mercado. A primeira surgiu em São Paulo, mas logo o movimento chegou ao Rio e a Belo Horizonte.
Dá pra imaginar o trabalho que que deu para superar desconfianças, temores e a absurda noção que teu companheiro de profissão é o inimigo a ser combatido. (Noção espalhada com sucesso por patrões e contratantes até hoje - ou desde sempre). Muita conversa, discussões acaloradas até que ficasse claro para toda a classe que, ou a gente se unia em torno de uma pauta mínima comum a ser defendida por uma entidade que nos representasse, ou era melhor a gente mudar de ramo.
Chegou-se a um consenso, englobando preço, normas de utilização das fotografias, direitos autorais e o compromisso de todos de defender o acordado diante das pressões das agências, que fatalmente ocorreriam.
Curioso notar que, no Brasil, quanto mais letrado, menos consciente de seus direitos. E maior a propensão a defender os exploradores.
A exposição foi um sucesso, mostrando ao pessoal das agências, aos clientes e ao público em geral o excelente patamar artístico, técnico e profissional dos fotógrafos locais, plenamente capacitados a atender suas demandas, sem a necessidade de contratar fotógrafos do Rio e São Paulo para campanhas mais elaboradas, prática ainda adotada por algumas agências mais metidas a besta.
Saudade deste tempo, das questões levantadas, da conscientização daí decorrente, com uma sensível melhoria no relacionamento profissional com as agências e clientes.
No início dos 1990 encerrei minhas atividades como fotógrafo, iniciando uma vida como agricultor familiar, categoria ignorada pelos governos e pela sociedade, durante séculos, que teve de cavar seu reconhecimento com a conscientização e organização em entidades combativas.
Apesar de algumas conquistas, obtidas com muita mobilização e pressão, está longe de ter o reconhecimento que merece por garantir a comida na mesa do brasileiro.
Ficando cada vez mais claro o dito daquele agricultor do distrito de Vazantes, em Aracoiaba: "ou nós se une, ou nós se lasca".