domingo, 30 de abril de 2017

O jornalismo de greve geral

Paula Cesarino Costa, ombudswoman do jornal Folha de São Paulo, resumiu a cobertura dos eventos do último dia 28 de abril, pela grande imprensa nacional, em frase curta e elegante: "Na sexta-feira, o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para trabalhar. " 
Bondade dela. O jornalismo, sem adjetivos, entendido como a atividade de apurar fatos e informações, redigir e publicar notícias nos meios de comunicação, tirou férias há muito tempo nos grandes veículos de comunicação de nosso País, que assumiram feição de partido político, sem pudor ou disfarce.
Apesar de ter fomentado o golpe militar de 1964 e apoiado abertamente a ditadura, enaltecendo-lhe os feitos, sendo cúmplice dos desmandos, a grande imprensa permitiu e publicou apurações feitas pelos seus jornalistas de fatos desagradáveis ao regime, como tortura, fome, escândalos financeiros, mordomias, driblando ou afrontando a censura e arbitrariedades. 
O que se viu na sexta-feira foi uma vergonha. Âncoras e comentaristas empenhados em adequar o acontecimento à visão do governo e da plutocracia que o apoia, ignorando a adesão de muitos setores da sociedade ao tema do protesto, demonstrando que a rejeição da sociedade a proposta se sobrepõe aos partidos políticos, sindicatos ou ideologias. 
Acreditam, piamente, que repetirão o sucesso obtido com a derrota da emenda das Diretas, em 1984, aprovando esta pauta plutocrata, num Congresso mais afeito a negociatas que a negociações.
Mesmo que finjam ignorar o que está acontecendo, a vida seguirá pulsando fora das folhas e das telinhas.
Termino com as palavras de um orador da manifestação de juízes, procuradores e demais membros desta categoria no Rio Grande do Sul, que vocês podem conferir neste link
"- (...)
- esse não é um ato de partido político
- esse não é um ato de uma central sindical
- esse não é um ato de uma ideologia
- o que move o fato de nós estarmos aqui hoje, é algo que é difícil de entender para aqueles que não tem valores, princípios e virtude
- quem não tem, não entende e desvirtua nossas razões
- essa organização aqui é uma organização de homens e mulheres responsáveis
- são entidades existencialmente que entendem o seu lugar na história e entendem sua responsabilidade na república
- aqui não se trata de chamar esse grupo de coxinha ou de mortadela, ficar chamando e estabelecendo essas flutuações imbecis, essas concepções monológicas, essas concepções binárias de quem vive o mundo apenas a partir dessas concepções."

(a ilustração não poderia ser outra, concordam?)



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