domingo, 18 de outubro de 2015

o fogo pode queimar

Recebi hoje questionamento por justificar a utilização de queimadas em recente postagem aqui no blog.
Tá certo. Fui reler o blog e constatei ter misturado alhos com bagulhos, mostrando uma visão meio confusa sobre o assunto. E como com fogo não se brinca, me apresso pra colocar as coisas no seu devido lugar.
Embora o domínio do fogo pelo ser humano represente um dos grandes passos de sua evolução, a utilização que tem feito disto nem sempre tem sido das melhores.
Com o conhecimento e ferramentas hoje disponíveis, não exite nenhuma justificativa para o agricultor continuar usando a queimada para o preparo do terreno. No caso de um sistema de agricultura que se pretenda agroecológica ou sustentável é totalmente inadmissível.
Mormente no semiárido nordestino, onde a "fitomassa produzida anualmente não é suficiente para oferecer uma cobertura morta adequada à proteção do solo e manter um nível adequado de matéria orgânica", como ensina o Prof. João Ambrósio. Ressaltando, ainda, que "o intemperismo normal na região consome anualmente cerca de 90% da serrapilheira".
Além dos efeitos prejudiciais aos ecossistemas, as queimadas aumentam a emissão de CO2 na atmosfera, incrementando o "efeito estufa". Sem contar com o perigo que o fogo se alastre pra fora da área do roçado, provocando incêndios nas matas vizinhas, acidente bastante comum.
É deprimente o espetáculo dos rolos de fumaça no sertão quando se olha do talhado da serra ou então subindo as encostas quando se vê do sertão.
Assustador que uma prática tão primitiva e deletéria seja usada ainda costumeiramente por empreendimentos agrícolas de todos os tamanhos e de condições tecnológicas diversas. A foto que ilustra este post é a devastação de uma considerável área no sul do Pará, por uma grande empresa agrícola, dotada de recursos técnicos e financeiros.
A agricultura produtivista, dita moderna, considera o solo um suporte inerte, acreditando poder suprir todas as necessidades das plantas com o aporte de recursos externos, comprados da indústria química. Os técnicos da assistência técnica oficial ou das empresas dão de ombros, alegando ser a forma mais rápida e econômica de limpar uma área. Pudera. A conta vai pra sociedade.
Felizmente, existe na sociedade um sentimento de preocupação com as questões ambientais, ainda difuso, por certo, mas real. E existe uma prática de agricultores familiares, assentamentos da reforma agrária, produtores orgânicos, assistidos por técnicos ligados a ONGs, movimentos sociais e outros setores da sociedade civil, no sentido de mostrar a viabilidade de uma agricultura que se desenvolva junto com a Natureza e não contra ela. Preocupados em produzir alimentos nutritivos e saudáveis. Sabendo que o ser humano é parte do Meio Ambiente e não o seu dono.
Não sei se dá pra ser otimista. Mas não dá pra fugir desta luta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário