quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Nome aos Bois

Longo silêncio, um ano inteiro, por motivos pessoais e profissionais, e eis que me chega a edição da revista Hortifruti Brasil com a matéria de capa: Os hortifrútis produzidos no Brasil são seguros?
A Hortifruti Brasil é uma publicação do CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP dedicada a informações e análises sobre a produção de frutas e hortaliças, tratando, nesta edição, dos relatórios da ANVISA sobre resíduos de agrotóxicos nestes alimentos e do tratamento que a imprensa dá ao assunto.
Da mídia, nenhuma novidade: muito espalhafato e pouca informação e discussão.
A revista ressalta que o risco à saúde, divulgado, aliás, pela própria ANVISA, é mínimo e que grande parte das não conformidades se devem à falta de registro de alguns agrotóxicos para determinados produtos. O artigo completo pode ser encontrado aqui.
De minha parte acredito que, registrados ou não, não existem níveis seguros para o consumo destas substâncias, mesmo em quantidade abaixo do Limite Máximo de Resíduos (LMR) tolerados pela legislação.
Enquanto isso, era aprovado na comissão especial da Câmara dos Deputados o PL 6299/2002, o famigerado PL do Veneno, que facilita a liberação de agrotóxicos, com intensa oposição de órgãos e entidades ligadas à saúde e ao meio ambiente, pelo risco evidente de precarização da saúde e qualidade de vida de agricultores e consumidores.
Os defensores da PL lançam mão de conhecida coleção de falácias, incluindo a manjada e falsa ajuda à produção do agricultor familiar, procurando esconder seus únicos e reais beneficiários: os lucros das multinacionais do ramo agroquímico e sua cadeia de distribuição.
É por demais óbvio que a aplicação de agrotóxicos não tem tido sucesso no que se propõe. Apesar de sua aplicação indiscriminada há mais de meio século as pragas da lavoura só têm se multiplicado, como confirma o histérico discurso dos apoiadores da PL do Veneno. Ou seja, propõe-se uma solução que já se mostrou ineficiente. Quem ganha com isso? Nem o agricultor, nem o consumidor.
Irônico que o site que defende a aprovação do projeto se chama leidoalimentoseguro.com.br. Inconcebível falar em alimento seguro com a aplicação descontrolada de agrotóxicos. Que é só isso o que garante o projeto de lei. Aquela balela de receituário agronômico, orientação técnica e afins são conversa pra boi dormir. Basta ver o que acontece hoje.
Coroando o processo uma alteração semântica. Sai o nome agrotóxico, considerado forte por ressaltar a toxidade das substâncias, entrando em seu lugar a denominação defensivos agrícolas, mais inócuo e palatável. Até o termo pesticida (ou praguicida), usado internacionalmente, foi desprezado
Desconfio desses eufemismos, sempre a esconder duras realidades.
Não dá pra ser otimista com a posição do plenário da Câmara sobre o assunto. Temos visto quais interesses a maioria tem defendido. Quase nunca os do Brasil e seu povo.
Abramos o olho.

P.S.: a foto que ilustra esta postagem é de um dos estabelecimentos agropecuários que não utilizam agrotóxicos, segundo os dados preliminares do Censo Agro 2017, divulgados pelo IBGE. Mas isto é assunto pra outra conversa.













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